- Área: 5266 m²
- Ano: 2016
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Fotografias:David Frutos
"Lidando com Infraestruturas": sob este título da área temática que os organizadores do concurso Europan 7 inscreveram o terreno localizado em Viena; na verdade trata-se de um exemplo paradigmático: um terreno triangular localizado na periferia da cidade, envolto por vias de tráfego intenso, uma linha de metrô elevada e atravessado por uma linha de alta tensão; um típico terreno remanescente das próprias infraestruturas que o envolvem. Os empreendedores de habitação social envolvidos já haviam construído na área, mas haviam deixado o 'resto' para uma segunda oportunidade. Este 'resto' não era apenas uma oportunidade imobiliária, mas uma que poderia gerar uma nova vida urbana em um bairro periférico e carente de uma imagem representativa própria. O terreno do Perfektastrasse 58 era cheio de oportunidades, e reconhecê-las representou o início da proposta. Devido à visibilidade dada pela linha do metrô, o terreno já fazia parte da imagem de milhares de pessoas que passam por ali a caminho do centro, algo que o projeto poderia explorar. A proximidade com a estação Perfektastrasse apontava como o local ideal para se aumentar a densidade construtiva, trazendo mais pessoas e mais vida para a área, seguindo as teorias propostas pelo Desenvolvimento Orientado de Trânsito. O terreno tinha condições de evoluir para um novo espaço público urbano, um local de transição a caminho da estação, mas também um espaço público para para celebrar a coletividade cotidiana. A ausência dos edifícios do outro lado da linha do metrô permitem as vistas para a paisagem de Viena, localizado na cota +8 m em relação ao solo. O atual estado do terreno abandonado também proporcionou diretrizes de intervenções, uma vez que a presença da vegetação espontânea gerava uma imagem significativa ao contexto, e sobretudo uma biodiversidade que poderia e deveria ser preservada.
O projeto aproveita essas oportunidades e as transforma em duas estratégias arquitetônicas principais. A criação de 3 diferentes níveis e a importação de uma paisagem verde ao terreno.
Em seu nível inferior, o projeto apresenta uma clara vocação pública onde diferentes usos comuns estão inseridos em meio à atividades comerciais. Um espaço que fomenta as relações sociais entre os habitantes e os transeuntes ocasionais a caminho do metro. Acima deste, um segundo nível configura uma grossa camada de coberturas onde estão casas pátio (uma tipologia de herança mediterrânea que foi proposta para Viena), que se tornaram unidades de dois pavimentos na fachada norte frente à grande sob a linha de tensão. E por sobre esta cobertura estão quatro torres de apartamentos, cujo perfil se afasta da rede elétrica, observando a paisagem da cidade.
Em relação à configuração em planta, o projeto faz alusão à estrutura dos campos de cultivo que rodeiam a cidade de Viena, como estratégia formal capaz de assumir as múltiplas condições do perímetro do terreno já comentadas acima. Após 13 anos de trabalho esta estratégia que poderia responder a questões mais rígidas e formais resultou em uma abordagem bastante operativa, permitindo que o projeto incorporasse mudanças normativas, programáticas e compositivas. Além disso, a alusão aos campos de cultivo não foi apenas uma questão retórica, mas produtiva, a criação de hortas nas coberturas das casas-pátio para serem cultivadas em vizinhança... ainda que em 2003 era cedo para falar do fenômeno das cidades produtivas e hortas urbanas, no fim foram criadas coberturas verdes intensivas como medida de sustentabilidade ambiental.
O projeto assumiu a condição de integrante da imagem da cidade por um número considerável de vienenses (por estar em uma área de grande visibilidade) reinterpretando uma condição cultural de Viena, as fachadas rebocadas pintadas. O resultado foi a criação de uma nova imagem urbana reconhecível para o 23º distrito ao aumentar a intensidade cromática das fachadas... os chamados limões de Viena.